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#Emmy2018: O Emmy da diversidade?

Na noite da última segunda-feira (17), o Microsoft Theater em Los Angeles recebeu a cerimônia que marcou o aniversário de 70 anos do Emmy Awards, e lá, grandes obras como Game Of Thrones e The Marvelous Mrs. Maisel foram consagradas com o maior prêmio da indústria televisiva. Entre momentos emocionantes e históricos, piadas, alfinetadas e todos os elementos que uma premiação estadunidense costuma apresentar, um tema em especial foi assunto recorrente ao longo de toda cerimônia: a diversidade. Tendo Michael Che e Colin Jost como os anfitriões da festa, o Emmy seguiu a recente tendência das outras grandes premiações da indústria do entretenimento norte-americano de apontar para a grande desigualdade presente no ramo de forma crítica (mas dessa vez, poupando o presidente Donald Trump).
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Na noite da última segunda-feira (17), o Microsoft Theater em Los Angeles recebeu a cerimônia que marcou o aniversário de 70 anos do Emmy Awards, e lá, grandes obras como Game Of Thrones e The Marvelous Mrs. Maisel foram consagradas com o maior prêmio da indústria televisiva. Entre momentos emocionantes e históricos, piadas, alfinetadas e todos os elementos que uma premiação estadunidense costuma apresentar, um tema em especial foi assunto recorrente ao longo de toda cerimônia: a diversidade. Tendo Michael Che e Colin Jost como os anfitriões da festa, o Emmy seguiu a recente tendência das outras grandes premiações da indústria do entretenimento norte-americano de apontar para a grande desigualdade presente no ramo de forma crítica (mas dessa vez, poupando o presidente Donald Trump).

A lista de indicados, com 38 profissionais não-brancos,  foi a mais inclusiva e variada da história do Emmy, onde a própria abertura e diversos comentários ao longo da cerimônia foram recheados de crítica social em relação ao predomínio caucasiano na indústria, mas sem necessariamente se refletir entre os vencedores da noite.

(Imagens: Divulgação/Television Academy)

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A questão da diversidade e a luta social pautaram o ritmo da noite

O Emmy Awards mais diversificado da história já começou com o pé na porta ditando qual seria o principal assunto da noite: o combate ao preconceito e a luta por representatividade. Nomes conhecidos como o cantor Ricky Martin, a estrela Titus Andromedon (Unbreakable Kimmy Schmidt), John Legend e os membros do Saturday Night Live Kate McKinnon e Kenan Thompson brincaram sobre como resolver o problema da diversidade Hollywood em um cômico número musical de abertura intitulado “We Solved It” (“Nós resolvemos”, em português), que prestou homenagem à lista diversificada de nomeados este ano como a atriz Sandra Oh, a primeira descendente asiática indicada como Melhor Atriz, e ironizou ao dizer que, agora que uma asiática foi indicada, o problema da representatividade foi resolvido.

Nós damos boas-vindas aos asiáticos, até os demos aquele único programa (…) Vocês viram? Antes não existia nenhuma, agora temos uma, então o problema acabou” , cantaram Kenan Thompson e Kate McKinnon.

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A esquete ainda contou com a participação do ator Andy Sandberg (Brooklyn 99), que apareceu no palco montado em uma lua gigante perguntando se ainda havia espaço para um homem branco hétero como ele na canção, e ainda do apresentador RuPaul (RuPaul’s Drag Race), que entregou um telefone para Kenan Thompson onde uma ligação avisava o humorista que, na verdade, o problema da diversidade ainda estava longe de ser resolvido (piada essa que foi brilhantemente interrompida por RuPaul, que questionou o fato de ter sido chamado apenas para uma fala “nessa esquete estúpida”, arrancando gargalhadas da platéia).

Após a ácida e bem-humorada apresentação, os anfitriões oficiais Michael Che e Colin Jost, ambos também humoristas do Saturday Night Live, tomaram as rédeas da cerimônia. Seguindo o tom de humor irônico, os atores teceram uma sequência de piadas e comentários sarcásticos além da questão da diversidade, mas também acerca dos inúmeros casos de assédio sexual na indústria que estão sendo cada vez mais denunciados e divulgados pela imprensa.

Colin Jost and Michael Che

Michael Che: “É uma honra estar nesta noite com as muitas, muitas pessoas talentosas em Hollywood que ainda não foram presas.

Colin Jost: “Este ano, a plateia pode beber aqui no teatro. Espero que vocês estejam animados com isso. Porque a única coisa que Hollywood precisa agora é gente perdendo a vergonha durante um evento de trabalho.

Michael Che: “Minha mãe diz que não gosta de ver prêmios de gente branca porque vocês nunca agradecem Jesus o suficiente. Isso é verdade. Os únicos brancos que agradecem Jesus são republicanos ou ex-viciados em crack.

Colin Jost: “Não sei se vocês sabem, mas o primeiro Emmy aconteceu em 1949. As coisas eram muito diferentes naquela época. O galão de gasolina custava 17 centavos, uma nova casa custava 7.000 dólares e todos concordávamos que os nazistas eram pessoas ruins.

Colin Jost: “A Netflix tem o maior número de indicações. Se você é executivo de emissora, essa é a frase mais assustadora que você pode ouvir. A não ser, talvez: ‘Senhor, Ronan Farrow está na linha um.” (Uma clara referência ao jornalista Ronan Farrow, filho de Mia Farrow com Woody Allen e o responsável por algumas das primeiras reportagens sobre os casos de assédio em Hollywood).

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Michael Che: “Falando em coisa triste, The Handmaid’s Tale foi indicado a melhor drama. Não sei quem viu, mas The Handmaid’s Tale se passa em um futuro imaginado em que todo um grupo de pessoas é violentamente forçado a parar de trabalhar e fazer bebês contra a sua vontade. Isso é o que pessoas negras chamam de história.

Diversidade entre os vencedores?

Rachel Brosnahan, Tiffany Haddish, Angela Bassett

Apesar de toda crítica social de início, muitos espectadores comentaram sobre o fato do Emmy levantar a bandeira da diversidade em sua abertura, mas logo em seguida premiar oito pessoas brancas consecutivamente, mesmo com nomes fortíssimos concorrendo as mesmas categorias, como Donald Glover por sua aclamada Atlanta e as atrizes  Issa Rae de Insecure e Tracee Ellis Ross de Black-ish (que poderiam ter sido as segundas atrizes negras a vencerem essa categoria na história, e as primeiras atrizes negras a vencerem Melhor Atriz de Comédia desde Isabel Sanford por The Jeffersons, em 1981).

Os vencedores até o momento tinham sido: Henry Winkler e Bill Hader (Barry), Alex Borstein, Amy Sherman-Palladino e Rachel Brosnahan (Mrs. Maisel), Merritt Wever e Jeff Daniels (Godless) e Ryan Murphy (American Crime Story), e neste momento, já começavam as piadas no palco em relação ao predomínio étnico entre os vencedores (onde até chamaram a edição de #EmmySoWhite, referência a edição do Oscar de 2016 que contou apenas com indicados brancos em todas as categorias). Até que um dos melhores e mais surpreendentes momentos da noite aconteceu quando Regina King (Seven Seconds) foi eleita a Melhor Atriz de Minissérie ou Telefilme e quebrou a sequência, se tornando a primeira indicada negra a sair vitoriosa na noite.

Regina King

A decisão da Academia foi pouco comum, uma vez em que dificilmente os membros premiam uma série que foi cancelada, e  pareceu surpreender a atriz da mesma forma, que entrou em estado de choque e mal sabia o que dizer no discurso de agradecimento. No geral, mesmo a edição de 2018 possuindo 38 indicados não-brancos (e apenas seis vencedores nas grande categorias), o predomínio caucasiano se mantém como um reflexo da clara desigualdade de oportunidades no ramo do entretenimento.

Os Emmys da reparação

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Outro grande momento da premiação foi quando o apresentador Micheal Che falou sobre como o papel do negro na indústria foi reduzido e esquecido ao longo de todos esses anos:  “Vocês sabem, como um comediante negro por tantos anos, nossas lendas e heróis da TV não foram reconhecidos “, explicou Che.” Então, este ano como anfitrião, eu assumi a responsabilidade de finalmente corrigir alguns desses erros. Eu apresento os Emmys da reparação”. Daí, ele mostrou diversos vídeos muito bem-humorados (incluindo até mesmo uma piadinha com Bryan Craston e seus Emmys por Breaking Bad) dele mesmo dando estatuetas do Emmy para artistas negros que, teoricamente, foram injustiçados pela Academia no passado por questões raciais: Marla Gibbs de “The Jeffersons“, Jimmie Walker de”Good Times“, Tichina Arnold de “Martin“, Kadeem Hardison de “A Different World“, Jaleel White de “Family Matters” e John Witherspoon de “The Wayans Bros.

Por fim, deixando as piadas e esquetes de lado, um dos depoimentos que melhor retrata o cenário de desigualdade vivido por estadunidenses não-brancos em relação as oportunidades foi dado pelo ator John Leguizamo, colombiano e indicado a Melhor Ator Coadjuvante em Minisséries por seu papel em Waco. Em uma entrevista para a CNN no tapete vermelho, pouco antes de começar a cerimônia, o ator (que inclusive é um dos pouquíssimos latinos a figurar no Emmy), falou sobre a questão da diversidade.

Tem havido alguma mudança neste cenário, é verdade, mas não tanto quanto eu gostaria de ver. Nós, latinos, somos cerca de 50% da população de Los Angeles e menos de 3% dos nossos rostos estão na frente da câmera.“, disse Leguizamo.

Porém, de acordo com o astro, a solução para esse quadro é “simples”: “O talento está por aí, pessoas talentosas estão por aí, não precisamos apenas de mais talentos. O que precisamos é que existam executivos latinos nas grandes corporações, que estejam tomando as decisões, que irão entender a nossa cultura e o por que disso ser tão importante“, completou o ator.

Como a atriz Viola Davis, a primeira mulher negra a vencer o prêmio de Melhor Atriz Dramática no Emmy 2017, apontou em seu já histórico discurso de agradecimento: “A única coisa que separa a mulher negra do resto é a oportunidade. Não se ganha um prêmio de Melhor Atriz sem primeiro conseguir um papel.