Pular para o conteúdo

CRÍTICA | ‘The Americans’ dá uma aula de narrativa e chega ao fim com uma temporada irretocável

Sexta temporada da série finaliza com maestria todo um caminho bem percorrido e coloca a série do FX como uma das maiores da história
5/5 - (1 voto)

Dói dizer adeus a uma das maiores séries da atualidade. “The Americans“sempre foi uma referência de qualidade em quase todos os aspectos e sua sexta e última temporada elevou ainda mais o seu nível, encerrando aquilo que vinha sendo desenvolvido com toda a paciência e cuidado necessários para um desfecho agridoce e irretocável.

Três anos após os eventos da quinta temporada, o sexto ano começa com os Jennings divididos. Philip afastado dos serviços do KGB e cada vez mais distante de Elizabeth, enquanto Paige, que já não mora mais com eles, se aprofunda mais nas missões com a mãe, e Henry continua sem saber de nada lá na sua escola integral. E após Philip passar por dificuldades na agência de viagens, Stan começa a suspeitar dos Jennings e começa a investigar sozinho para descobrir o que está por trás deles.

O que eu mais gosto em The Americans é a forma com que sua narrativa é apresentada, nada está ali por acaso. Joseph Weisberg soube construir as ligações para os eventos dessa temporada desde o piloto da série, sem desvios, no tempo perfeito, tendo em mente tudo aquilo que já planejava fazer, e eu vou exemplificar isso falando separadamente de cada personagem e as camadas que os envolviam.

Philip sempre foi um agente fiel a KGB, mas que tinha um lado emocional mais aguçado, quase sempre prezando pela família, criando uma ótima e sincera amizade com Stan, indo a encontros de desabafos pessoais e aulas de dança country para tentar ter um apego maior a cultura americana, para quem sabe um dia, eles conseguissem viver uma vida tranquila na América após encerrarem a sua missão. Depois de aposentado, Philip viu sua relação com Elizabeth se perder, pois o trabalho era algo que unia os dois.

Leia Agora  Crítica | Empolgante temporada, 3% não mostra sinais de cansaço

Aí já puxamos o arco para falar de Elizabeth, que sempre colocou o trabalho acima de tudo, até mesmo da própria família. Uma personagem fria e calculista que na maior parte das missões não sentia remorsos das crueldades que teve que fazer em nome da KGB. No entanto, ela tinha um carinho pelo Philip e pelos filhos que estava escrito no próprio olhar, mas algo a afastava deles. Enquanto ele era o que estava sempre tentando ficar mais próximo do Henry por questões de afeto, ela estava se aproximando cada vez mais da Paige para inserir ela nas missões. É importante falar da atuação da Keri Russel nessa temporada, ela sempre foi excelente, mas aqui ela se coloca de vez no patamar entre as favoritas na disputa por prêmios, principalmente pela cena da discussão dela com a Paige.

Sexta temporada da série finaliza com maestria todo um caminho bem percorrido e coloca a série do FX como uma das maiores da história
A distância entre os dois exemplificada em um plano da temporada (FOTO: Reprodução/FX)

A PARTIR DAQUI TERÃO SPOILERS DA SEXTA TEMPORADA, LEIA POR SUA CONTA E RISCO!

E aí voltamos a distância que a aposentadoria do Philip causou aos dois. Onde o Philip até tentava se aproximar, mas ela nunca estava disposta a conversar com ele, ou porque não queria, ou porque não podia. Até que a missão em Houston teve esse papel de unir os dois novamente, ou seja, pelo trabalho se distanciaram, e pelo trabalho se reaproximaram. Mas acontece que, o que aconteceu para unir os dois novamente, foi o ponto-chave para quebrar outra relação, a do Philip com o Stan.

Stan pode não ter sido o vizinho dos sonhos que os Jennings queriam ter, por ser um agente do FBI que trabalhava  justamente para pegar pessoas como eles. Mas, mesmo com tudo isso, ele e Philip criaram uma verdadeira amizade, até o exato dia dessa viagem de Philip e Elizabeth, que precisaram ficar longe no dia de ação de graças, no mesmo período em que mataram dois agentes do FBI. Vimos nos olhos de Stan, através da excelente atuação do Noah Emmerich, que apesar de passar anos e anos procurando pelos responsáveis pelos atos da KGB e estar bem próximo disso, ele não queria acreditar que o seu melhor amigo estava envolvido nisso. O diálogo entre eles no último episódio não foi somente o melhor diálogo de The Americans, como também um dos melhores diálogos da história da TV. Stan foi completamente humano ali, não sabia exatamente o que fazer naquela situação, sentindo raiva e decepção ao mesmo tempo, e a decisão de deixar eles irem embora mostra o quanto a situação foi difícil para ele.

Leia Agora  Saída de Sierra McClain de 9-1-1: Lone Star antes da 5ª temporada.

Então, vamos mergulhar de vez nesse último episódio e nesse desfecho impecável da série. The Americans foi na contramão de todas as séries do gênero e fez algo extremamente corajoso e plausível com tudo que foi construído: resolver tudo nos diálogos. Não é porque é uma série investigativa que ela vai ser finalizada com perseguições frenéticas e cenas de ação, não, The Americans foi mais a fundo construindo uma relação e a destruindo por dentro.

Philip assumiu a identidade para o Stan, mas não assumiu tudo, utilizou sua manipulação para fazer com que Stan os deixasse sair, e mais, deixou em aberto uma pauta importantíssima, de que a Reneé pode ser uma agente. E eu achei sensacional que a série não nos revelou isso. No fim vemos um Stan abalado e abraçando ela, mas logo depois se afastando novamente por essa dúvida que deve pairar por um bom tempo com ele.

A decisão de deixar Henry para trás foi a mais certa, não seria justo tirar os sonhos de um garoto americano de uma hora para outra para levá-lo para a Rússia e recomeçar tudo do zero. E a desistência da Paige no meio do caminho foi um dos pontos mais fortes do episódio, ao emocionante som de “With or Without You“, porque ela também não estava preparada para recomeçar, e ao lado do irmão, pode ser que um dê forças ao outro para viverem a sua vida. Além disso, a permanência da Paige nos EUA pode servir como ligação entre Henry e o casal, para, quem sabe, em um possível futuro spin-off, isso possa servir como moeda para o reencontro deles.

E por fim, a cena final, com Elizabeth e Philip na Rússia falando sobre começar de novo, que simboliza o título do episódio “START”. Nesse diálogo com projeções de como seria se eles tivessem ficado na Rússia, de como será que os filhos vão ficar nos EUA, e a incerteza de permanecerem juntos. Um final agridoce, reflexivo e incerto, vai deixar saudades…

Leia Agora  CRÍTICA - The Good Fight: 3ª Temporada

No Brasil, a sexta temporada já está disponível no Fox Premium.