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CRÍTICA | O TELEFONE PRETO é sombrio e tenso, mas é terno

CRÍTICA | O TELEFONE PRETO é sombrio e tenso, mas é terno
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Baseado em um conto de Joe Hill (filho de Stephen King) e adaptado pela mesma equipe por trás de A Entidade e Doutor Estranho, O Telefone Preto não é um filme complicado. O diretor Scott Derrickson e o roteirista C. Robert Cargill entregam um realismo mágico que mistura realidade e fantasia, enquanto um adolescente tenta desesperadamente sobreviver.

North Denver, 1978. Uma série de adolescentes do bairro começa a desaparecer, dando origem a rumores de um sequestrador de crianças diabólico conhecido como The Grabber. Para Finney Shaw (Mason Thames) e sua irmã mais nova Gwen (Madeleine McGraw), os rumores são apenas isso – tingidos com estranhos detalhes sussurrados de uma van preta, balões pretos deixados para trás na cena do último paradeiro conhecido da vítima e outros… até que o melhor amigo de Finney, Robin, se torna a última vítima do Grabber.

Gwen tem sonhos estranhos que parecem apontar para a identidade do Grabber – mas seu pai abusivo (Jeremy Davies) a castiga para que não fale deles, com medo de que Gwen acabe como sua mãe suicida se ela perseguir seus sonhos ainda mais. Em pouco tempo, porém, Finney descobre que o Grabber (Ethan Hawke) é muito real… acabando preso em seu porão de concreto sozinho com os detritos de vítimas passadas. Um telefone preto desconectado pode ser a última esperança de Finney, pois ele recebe instruções dos fantasmas das vítimas do Grabber sobre como escapar das garras de seu sequestrador.

Baseado em um conto de Joe Hill (filho de Stephen King) e adaptado pela mesma equipe por trás de A Entidade e Doutor Estranho, O Telefone Preto não é um filme complicado. O diretor Scott Derrickson e o roteirista C. Robert Cargill entregam um realismo mágico que mistura realidade e fantasia, enquanto um adolescente tenta desesperadamente sobreviver.
Os dois protagonistas do filme, que roubam a cena com sinceridade e ternura

Thames e McGraw são excelentes em The Black Phone, criando um vínculo terno de irmãos que supera e sobrevive a quaisquer ameaças domésticas e fora de casa. McGraw possui o brilho dos melhores protagonistas infantis, determinada a descobrir qualquer situação decorrente de conflitos que outros adultos esperariam que ela fosse jovem demais para entender, muito menos para enfrentar bravamente por conta própria. McGraw desafia e profere palavrões a todo os níveis de autoridade, de detetives locais ao próprio Jesus. Mesmo quando abusada por seu pai, Gwen nunca deixa sua veia rebelde ser apagada. Ela finalmente grita o que seu pai quer ouvir, mas seu olhar penetrante revela que ela não dá a mínima para o que ele pensa – e ambos sabem disso.

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Quando Finney é sequestrado, Derrickson cruza cineticamente as histórias dos irmãos, navegando pela descoberta fragmentada de Finney dos segredos do porão, enquanto pistas semelhantes abrem caminho para os sonhos de Gwen. Muitas vezes, as visões de Finney, transmitidas a ele por espíritos que ligam para o telefone preto, sangrarão em visões semelhantes experimentadas por Gwen, mantendo os dois ligados mesmo quando os dois estão fisicamente separados. É uma expansão maravilhosa do universo do conto, mantendo o filme se movendo além de seu cenário confinado, sem sacrificar qualquer tensão e claustrofobia intrincadamente construídas.

Esse filme é aterrorizante. Seja pelo súbito aparecimento das vítimas anteriores do Grabber, suas vozes sobrenaturais filtradas pela estática do telefone fixo, ou como seu diálogo ecoa em torno dos alto-falantes do cinema, Derrickson mantêm perpetuamente o público de O Telefone Preto em um estado constante de desconforto e ansiedade. Ele é mestre em cenas onde o que é mostrado diretamente complementa o que está terrivelmente implícito – com as ruínas do porão servindo como ilustrações de eventos horríveis do passado, enquanto os fantasmas narram suas tentativas finais de fuga.

O TELEFONE PRETO é marcante, é sombrio e tenso, mas é terno

O terror supremo neste filme, no entanto, vem da performance incrivelmente assustadora de Ethan Hawke. O Grabber é o mal com E maiúsculo, com uma malevolência desenfreada. Com suas máscaras duplas, o Grabber pode tornar seus olhos ou sua boca visíveis, mas nunca é totalmente revelado – mantendo-o perpetuamente desconhecido e aterrorizante. Da mesma forma, Derrickson e Cargill nunca se aprofundam na história do próprio assassino. Sabemos tanto quanto Finney, deixando muito de sua motivação para a imaginação do público. Você nunca viu Hawke tão diabólico.

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A imprevisibilidade do assassino também é percebida em grande parte do design de produção impressionantemente criativo do Telefone Preto. O filme traz uma bela quantidade de precisão de época para um filme de terror – sua cena de abertura é literalmente uma lata de pop-top – mas o que é realmente incrível é como Derrickson, Cargill e a designer de produção Patti Podesta transformam cada centímetro do porão da prisão de Finney em um campo minado de configurações inócuas e recompensas animadoras. É uma ótima maneira de perceber visualmente a jornada do filme, do desespero mais sombrio de Finney ao seu desejo de sobreviver, enquanto Finney cava, chora, enterra e sobe para fora das garras da morte.

Com sua bela história de amizade por trás, O Telefone Preto reúne sua equipe criativa para um filme que habilmente emprega o thriller old-school  com sinceridade e ternura.

The Black Phone teve sua estreia mundial no Fantastic Fest, em 25 de setembro de 2021. O filme foi lançado nos Estados Unidos, pela Universal Pictures, em 24 de junho de 2022, e chegou aos cinemas brasileiros na última quinta-feira (14 de julho de 2022).

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