Longa chega aos cinemas nessa quinta (30) em todo o Brasil
Em sua estréia como diretor e roteirista, Jonah Hill nos tras um filme que estuda a juventude, o aprendizado, as influências, e a necessidade de fugir.
Anos 90 (no original “Mid90s”) começa com o garoto Stevie (Sunny Suljic) apanhando do irmão Ian (Lucas Hedges) no corredor escuro esverdeado de sua casa. Conforme a próxima cena vem, nos é apresentado um pouco mais sobre o personagem. Stevie é um garoto solitário que não possui nenhuma figura masculina em sua vida – exceto o irmão -, e esse é o motivo dele achar o irmão um modelo a ser seguido. É por isso que ele quer usar as roupas que o irmão usa, ouvir as músicas que ele ouve etc.
A mãe solteira de Stevie (Katherine Waterston) era uma adolescente quando teve Ian, e permanece jovem o suficiente para não se conter quando pensa em voz alta sobre os seus interesses românticos. Com a mãe ausente de um lado e as surras do outro, não é de admirar que a Stevie esteja querendo sair de casa. Ao ver um quarteto de adolescentes que passam seus dias em uma loja de skate local, ele cria a coragem de entrar no local, fingindo comprar camisetas enquanto ouve as brincadeiras dos jovens. Ninguém o reconhece, mas quando estão andando de skate em um beco, alguém lhe dá uma missão. Ele mal consegue conter sua excitação ao encher um galão de água.
Stevie entra no grupo sendo um pupilo para o membro menos importante e apreciado, Ruben (Gio Galicia), que gosta da ideia de ser mais deslocado que Stevie. Ruben dá conselhos absurdos para Stevie, como: Nunca diga “obrigado”, porque as pessoas vão pensar que você é gay. Ruben ludibria Stevie vendendo para ele um skate surrado, o que permite a ele entrar no mundo das crianças mais velhas: Ray (Na-Kel Smith), cujas habilidades no skate estão se aproximando do nível profissional; seu amigo de infância Fuckshit (Olan Prenatt), o desalmado e aparente líder do grupo; e Fourth Grade (Ryder McLaughlin), um menino quieto que, com sua filmadora barata grava tudo que os garotos fazem. O quinteto não faz nada além de passar o dia andando de skate, provocando guardas de seguranças, e fazem para si mesmos os tipos de perguntas que adultos jamais fariam.
Não há nos anos 90 que já não tenha sido coberto por diversos filmes, séries, documentários etc. Mas ainda assim Jonah Hill consegue nos trazer uma história que talvez não seja original, mas que com certeza possui um valor que é apenas seu. Hill é inteligente demais para confundir nostalgia com narrativa. O filme se passa nos anos 90, mas não possui nenhuma reverência cega e burra a época.
A cada cena que se passa, Mid90s é como ouvir uma música boa pela primeira vez. Apesar de alguns dialogos não serem originais, o local onde ele está colocado faz com que eles tenham vida própria. O filme é engraçado e dramático a cada cena que passa. O fator reflexivo está aqui, mas não de bandeja. Os momentos reflexivos são óbvios, mas o filme em nenhum momento tenta te influenciar a pensar algo, ele está apenas te contando uma história: o julgamento e a reflexão é tarefa do espectador.
Sunny Suljic está incrível como um garoto que diz muito com poucas frases; ele consegue cobrir toda uma cena complexa e difícil com apenas alguns olhares e expressões. E isso é algo que todo elenco conseguem fazer, exceto Lucas Hedges, que mesmo com poucas cenas, não consegue mostrar nada além do óbvio. É o elenco quem dita o ritmo do filme; ele quem diz se o filme será engraçado, dramático ou lunático. A cena que Ray mostra para Stevie que todos tem problemas, e que vida ruim é apenas uma questão de perspectiva e comparação é brilhante.
Apesar de capturar bem o extase da turma, Hill em nenhum momento abandona a psique de Stevie; ela é muito bem mostrada e cobrida pelo filme. O filme nos deixa querendo saber mais sobre Stevie – que ganha o apelido de SunBurn -, e nos mostra que esta pequena queimadura em algum momento irá incinerá-lo.
21. Estudante de Ciências Sociais. Apaixonado por música, cinema e literatura russa.