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Resenha: A Incendiária de Stephen King

Uma menina que queima tudo o que estiver ao seu alcance, com a força do pensamento. Um pai que faz de tudo para manter esta filha longe das garras do governo, em um verdadeiro jogo de gato e rato. Com esta premissa Stephen King apresentou ao mundo em 1980, A Incendiária.
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Uma menina que queima tudo o que estiver ao seu alcance, com a força do pensamento. Um pai que faz de tudo para manter esta filha longe das garras do governo, em um verdadeiro jogo de gato e rato. Com esta premissa Stephen King apresentou ao mundo em 1980, A Incendiária.

Os anos 70 e 80 marcaram um dos períodos mais tensos da história contemporânea, a Guerra Fria. A eterna luta de poderes entre americanos e soviéticos que se originou após o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, se estendeu até a queda do União Soviética em 1991. O temor de uma guerra nuclear foi tema de inúmeros filmes produzidos por Hollywood, enaltecendo a liberdade americana frente ao comunismo atrasado por parte dos soviéticos. Um dos filmes que marcou esta fase foi Platoon de 1986, protagonizado por Charlie Sheen.

Não só mísseis e telefones vermelhos botavam medo no mundo naqueles anos. Os testes, agências secretas e teorias conspiratórias acabaram caindo no imaginário popular. Telefones grampeados, espiões em todos os cantos e laboratórios que fabricavam armas químicas e realizavam os mais diversos testes com humanos.

Neste ambiente cheio de incertezas A Incendiária foi o sexto livro lançado por King. Seus antecessores foram todos Best Sellers. Desde Carrie, passando por Salen, O Iluminado, A Dança da Morte e A Zona Morta. A Incendiária iria conseguir manter o ritmo campeão dos “irmãos”?

Os acontecimentos políticos e o nascimento do primeiro filho de King, foram fontes inspiradoras do livro. Naomi veio ao mundo em 1970 tendo 10 anos quando A Incendiária foi lançada. King nunca escondeu que baseou Charlie McGee, no temperamento intrépido da filha.

A história

Tudo gira em torno de Charlie McGee e seu pai Andy, um estudante universitário sem muita grana. Para conseguir um “extra”, acaba se submetendo ao um experimento de uma agência obscura do governo chamada “Oficina”. Seu organismo recebe uma droga chamada Lote 6, uma substância que potencializa áreas pouco desenvolvidas do cérebro, e estimula possíveis poderes paranormais.

O que seria algo corriqueira, acaba ganhando outros ares quando Andy se casa com Vicky Tomlinson, dando vida à Charlie. Se os pais possuem “poderes” limitados, a garota é dotada da pirocinese, poder de controlar o calor. Após mortes por conta do medicamento, o governo começa a monitorar quem sobreviveu. As mortes acabaram sendo encobertas e quem abrisse a boca, acabava sendo “convidado” a fecha-la.

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Os sobreviventes eram constantemente monitorados por escutas telefônicas e agentes infiltrados no melhor estilo Arquivo X. Com o passar do tempo Charlie começou a desenvolver hábitos estranhos. O ambiente começava a ficar quente quando ficava zangada, ou era questionada. Não demorou para os impulsos fugirem do controle e o fogo começar a aparecer. O primeiro alvo foi um singelo ursinho de pelúcia. Tanto Vicky quando Andy não queriam admitir que a filha tinha problemas, mas levar isso à algum especialista, poderia significar que a pequena Charlie, estaria sujeita a passar seus dias trancada em algum laboratório. Mal sabia Andy que mais cedo ou mais tarde, o que eles menos teriam seria a paz e a vida, que tanto lutaram para conquistar.

E assim por um descuido, uma má interpretação dos agentes da Oficina, acabaram transformando a vida da família McGee para sempre. O poder oriundo de Charlie pode e deve ser usado para fins militares. Ela precisa ser capturada, estudada e pronto, assim como seu pai que também tem o poder da sugestão.

Uma menina que queima tudo o que estiver ao seu alcance, com a força do pensamento. Um pai que faz de tudo para manter esta filha longe das garras do governo, em um verdadeiro jogo de gato e rato. Com esta premissa Stephen King apresentou ao mundo em 1980, A Incendiária.
O Iluminado, Cujo e A Hora do Lobisomem são os primeiros títulos da Biblioteca Stephen King. (Foto: Fernando Rhenius)

Uma verdadeira caçada norteia a história. Como dois fugitivos, Andy e Charlie acabam caindo na estrada, dormindo em lugares pouco confortáveis, roubando e mentindo. O amor do pai pela filha é um dos pontos altos da história. Por diversos capítulos acabamos esquecendo que se trata de um livro de ficção científica ou suspense. A luta para dar o mínimo de conforto para Charlie, os medos de um pai, para dar a impressão de que tudo está bem, e a culpa pelo fatídico erro de se submeter ao Lote 6. A história é dividida em duas partes. A caçada que os agentes da Oficina realizaram e a captura da dupla, sendo confinados nos subsolos da agência para estudos.

A história possui personagens bem trabalhados. Andy é um pai lutador que mesmo enfrentando problemas com seus impulsos e uma dor de cabeça crônica por conta disso, faz de tudo para salvar a filha. Charlie é uma criança impulsiva, insegura e determinada ao mesmo tempo. Adquiriu uma forte personalidade depois que ficou confinada.

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Neste universo de perseguições, mortes e muito calor, personagens bem peculiares são apresentados no decorrer da história. A Oficina é comandada pelo capitão Hollister, ou simplesmente Capitão. Homem de fala mansa, austero e prático. Sabe muito bem como gerenciar uma crise, sem precisar levantar a voz. Hollister tem dois subordinados que se odeiam mas precisam trabalhar juntos para o bem da organização.

John Rainbird é o “Leão de chácara” da Oficina. Assassino profissional, cultua a morte de uma forma doentia. Um ser alto, de fala calma e métodos bem práticos, quando o assunto é tirar a vida de alguém. Como um bom vilão, uma deformidade física é apresentada. John não tem um olho, o que nos leva aos vilões que lutam contra 007. John é um índio, temido por todos dentro da Oficina. Até mesmo o Capitão tem um certo limite com ele. Seu desejo é mandar o velho índio para o inferno, mas precisa dele para realizar o trabalho sujo.

Patrick Hockstetter é o cientista responsável por estudar Charlie. Ele não é nenhum primor em sua área, e sempre acaba acatando as ordens de Rainbird. Sem muita paciência, sempre acaba tomando as decisões erradas de forma intempestiva. Todos os personagens que aparecem no decorrer da história são complexos e tem sua vida pessoal (com dramas principalmente) bem desenhada.

Andy e Charlie conseguirão escapar das garras de John Rainbird e da Oficina? Terão uma vida normal?

Stephen King e as crianças

A luta de um pai ou mãe para salvar seus filhos não é algo novo no universo de King. Louis Creed faz literalmente tudo para ter seu filho, Cage de volta. A epopeia do pai é o mote do livro O Cemitério, lançado em 1984, sendo um dos maiores sucessos do autor, considerado um dos mais assustadores também.

Lançado em 1981 após A Incendiária, Cujo mostra o drama vivido por Donna Trenton e seu filho Tad, confinados dentro de um carro, tentando sobreviver aos ataques de Cujo, um São Bernardo que adquire raiva. Nos dois casos o amor dos pais fica em um patamar superior, se comparado com o enredo do livro.

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O cárcere, as privações e os planos de fuga, se assemelham e muito com o que Paul Sheldon viveu em Misery, lançado em 1987. Sheldon era um escritor que acabou caindo nas garras da enfermeira Annie Wilkes, sua fã número 1. Os momentos de tensão vividos pelo escritor, o lugar fechado, o uso de drogas para manter Sheldon drogado e é claro a morte em forma de gente, são semelhantes. Tanto Annie quanto John Rainbird são assassinos natos, e gostam disso.

Ligação com IT

Não é segredo que os livros de Stephen King são interligados, sejam os personagens ou lugares. Patrick Hockstetter está presente no livro IT de 1986. Hockstetter seria uma das crianças desaparecidas em 1958. Ele aparece nos sonhos de Eddie Kaspbrak, em decomposição. Como o corpo nunca foi encontrado, possivelmente Patrick pode ter fugido de Darry e passados aproximadamente 20 anos, reaparece como médico.

Adaptação para o cinema

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O filme teve uma versão para o cinema, em 1984. Charlie foi interpretada por Drew Barrymore, o capitão Hollister por Martin Sheen e John Rainbird por George C. Scott. David keith fez o papel de Andy McGee.

A direção ficou a cargo de Mark L. Lester. Curiosamente os direitos da produção do filme foram adquiridos por um milhão de Dólares pelo egípcio Dodi Al-Fayed, namorado da Princesa Diana, que perdendo a vida ao lado da amada em 1997. King não participou da produção e não gostou do produto final, comparando o filme com O Iluminado de Kubrick . Seu descontentamento acabou se tornando público e uma troca de ofensas entre ele e o produtor Lester tiveram mais repercussão que o filme, que não foi um sucesso de crítica.

Ficha Técnica

Título original: FIRESTARTER

Tradução: Regiane Winarski

Capa: Alceu Chiesorin Nunes

Páginas: 450

Formato: 16.20 X 23.80 cm

Peso: 0.788 kg

Acabamento: Capa dura

Lançamento: 06/04/2018

ISBN: 9788556510617

Selo: Suma de Letras

Referências

KING, Stephen. A Incendiária. Rio de Janeiro: Editora Schwarcz S.a, 2018.

KING, Stephen. Cujo. Rio de Janeiro: Editora Schwarcz S.a, 2016.

KING, Stephen. O Cemitério. 2. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.

KING, Stephen. Misery: louca obsessão. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.

ROGAK, Lisa. Stephen King, a biografia – Coração Assombrado. Rio de Janeiro: Darkside, 2017.

SPIGNESI, Stephen J.. O essencial de Stephen King. São Paulo: Madras, 2003.