Terceira temporada, episódio 7. O relacionamento de Claire e Frank Underwood passa por um momento de provação. O episódio começa com uma cerimônia íntima de renovação dos votos do casal Underwood em Gaffney, a cidade onde eles casaram. Houve uma briga durante a viagem de volta da Rússia, onde os dois disseram coisas que não deviam ser ditas entre eles. A política e os interesses pessoais estavam afastando o casal.
Desde o início da série, o casal Underwood mostra-se unido em seus objetivos. Claire e Frank sempre tiveram um acordo: somos nós contra eles. As decisões sempre foram tomadas pelos dois, as atitudes sempre foram discutidas, as reações ensaiadas. E, de repente, durante a ascensão no Salão Oval, as metas pessoais acabaram falando mais alto, Claire e Frank tomando atitudes impensadas e a união dos dois foi abalada.
Há uma cena que, inicialmente, parece ser só mais um detalhe do que acontece no dia a dia dentro da Casa Branca, mas que aos poucos vai mostrando sentido no enredo primoroso deste capítulo de House Of Cards: os monges e a mandala de areia.
Edward Meechum explica para o presidente que os monges tibetanos estão na Casa Branca como parte de um intercâmbio cultural. Mas a presença deles e, especificamente, o trabalho com a mandala de areia, tem muito mais a nos dizer. Há uma série de significados na cerimônia da mandala de areia que se cruzam com o momento que o casal Underwood se encontra.
O principal ensinamento da mandala de areia é que tudo no universo faz parte do ciclo de nascimento, morte e renascimento.
– Tudo que é belo pode desmoronar, nada é permanente;
– Algo extraordinário só pode ser construído em equipe;
– Grandes realizações e bons relacionamentos necessitam de paciência;
– O fraco se transforme em forte, a beleza em feiura, a pobreza em riqueza e a saúde em doença.
Ou seja, o ritual da mandala, simplesmente, é uma reprodução da vida.
O que você vai encontrar aqui:
A Mandala
Mandala de areia, a arte de criar obras de arte complexas com areia colorida, é praticada por monges tibetanos como parte da tradição tântrica. Na língua tibetana, a arte é chamada dul-Tson-kyil-Khor (mandala de pó colorido). Milhões de grãos de areia são colocados cuidadosamente sobre uma plataforma plana. Vários monges trabalham em uma única peça, o que pode levar dias ou semanas para ser concluído. A palavra mandala significa “círculo” em sânscrito e representa o cosmograma de um Buda ou bodhisattva. A arte inclui figuras geométricas e vários símbolos budistas espirituais. Uma mandala de areia é usada como uma ferramenta para abençoar a Terra e seus habitantes. Ela também fornece ao monge uma representação visual da mente iluminada do Buda.
Uma típica mandala de areia consiste de um anel exterior e um interior, com um um pequeno quadrado que representa o “palácio celeste”, um lugar de habitação da divindade. Este conjunto tem quatro passagens que representam cada uma das quatro direções. O círculo e o quadrado principais são feitos com várias camadas intrincadas. O conjunto tem ainda um outro círculo, dividido em nove setores. Este círculo só pode repetir o padrão externo, ou o setor central pode conter a própria divindade. Se este for o caso, as manifestações da divindade estão representadas nos setores adjacentes. Algumas vezes, o padrão completo pode estar contido dentro de um quadrado, sendo cada um dos seus cantos de repetição do padrão em mandalas menores.
Como é feita a Mandala de Areia
Tradicionalmente, quatro monges trabalham em uma única mandala, cada um cuidando de um dos quatro quadrantes. Cada um desses quatro monges devem preencher seus contornos detalhados com cores. Todos os monges começam a trabalhar na mandala a partir do centro para fora. O equilíbrio é mantido pela espera de todos os monges para completar suas seções, antes de passar para a próximo. Mas, mesmo antes de começar o seu trabalho de areia, os monges desempenham uma cerimônia de abertura. Então, um giz é usado para fazer um projeto da mandala, começando com um único ponto no centro. Quatro linhas são traçadas a partir deste ponto, após o que cada monge vai trabalhar no seu próprio quadrante. O projeto é concluído, os contornos preenchidos com areia colorida, feita de pedra branca esmagada e tingida. Um dispositivo, que parece um funil, é utilizado para a aplicação da areia, é conhecida como chakpu.
Mas o que é mais original sobre as mandalas tibetanas de areia é que são destruídas logo após a conclusão. Os monges limpam a areia, empurrando tudo na direção do centro da plataforma. Todo o processo é desfeito e a areia é vertida em água corrente. Esta ação espera ensinar que as pessoas não devem se apegar aos objetos terrestres, simboliza a fragilidade de todas as coisas materiais. Tudo tem um início, um meio e um fim. E o fim leva à transformação, ao recomeço, ao renascimento.
O diretor John Dahl fez um ótimo trabalho capturando a beleza da arte dos monges, tornando o processo tão fascinante de se ver. A representação, as cores, a indiferença de Frank com o trabalho dos monges no início do episódio, mas que acabou significando algo muito forte e comovente no final.
Os sentimentos, a delicadeza de uma relação construída ao longo de 30 anos, a força do trabalho em equipe, o entendimento de Frank ao revelar que ele não estaria na Casa Branca se não fosse pela Claire, tornam este episódio um dos mais bonitos da série. A “mandala Underwood” só pode ser completada se os dois estiverem unidos.
O episódio termina quando Claire encontra uma foto emoldurada da Mandala com um bilhete de Frank: “Meu amor, nada é para sempre – exceto nós”. E pela primeira vez em meses, o casal volta a dormir na mesma cama.
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