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Crítica – Good Omens: adoráveis (e imperfeitas) heresias

Crítica - Good Omens: adoráveis (e imperfeitas) heresias
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Baseada no livro Good Omens: The Nice and Accurate Prophecies of Agnes Nutter, Witch, escrito em colaboração por Neil Gaiman e Terry Pratchett, a série Good Omens tem como showrunner e roteirista o próprio Gaiman, que roteirizou a série para atender um favor do próprio Pratchett quando este faleceu. A direção dos seis episódios ficou a cargo de Douglas McKinnon, e o elenco é nada menos que invejável: Michael Sheen e David Tennant nos papéis principais, além de Jon Hamm, Michael McKean, Miranda Richardson, Mirelle Enos,Nick Offerman, narração de Frances McDormand, e dublagens de Brian Cox e Benedict Cumberbatch.

A história segue o anjo Aziraphale (Sheen) e o demônio Crowley (Tennant), postos na terra desde o início dos tempos com a missão de trabalhar por seus respectivos Reinos e também vigiar um ao outro, mas que acabam construindo uma estranha e curiosa amizade no decorrer de 6000 anos. Quando chega a hora do Anticristo vir ao mundo e o Juízo Final ser cumprido, os dois tentam a todo custo impedir que o Apocalipse aconteça.

Além do nome chamativo de Neil Gaiman na criação e execução da série (afinal de contas trata-se de um dos maiores romancistas e quadrinistas do mundo nos últimos 30 anos), muito da minha antecipação vinha pela parceria de Sheen e Tennant, dois dos atores britânicos mais talentosos da atualidade. E em nenhum momento eles decepcionam, ostentando uma química invejável que torna a amizade antagônica entre um demônio e um anjo totalmente palpável e o coração da série. Sheen confere doçura e ingenuidade ao seu Aziraphale (e por isso o momento em que ele solta um “fuck” é ainda mais hilário), mas é Tennant quem rouba a cena com seu Crowley badass, cínico e despojado, mas também com sentimentos e até mesmo um lado bom. Ah, e eu já disse que ele é muito fã do Queen e que praticamente todas as músicas que tocam na série são da banda? Tenho certeza de que você nunca mais ouvirá I’m in love with my car da mesma maneira.

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Aliás, se há uma coisa na qual Good Omens acerta é no carisma de seus personagens, beneficiado pelo alto calibre dos atores. Se Jon Hamm consegue fazer um anjo Gabriel boçal e Michael McKean um caçador de bruxas meio estúpido (sim, temos bruxas e caçadores de bruxas envolvidos na história, além de anjos e demônios), quem acaba se sobressaindo é o núcleo infantil liderado por Adam Young, o Anticristo (Sam Taylor Buck), um garoto de 11 anos que não se sente muito confortável com o destino que lhe vem sendo reservado.

Infelizmente, a série acaba tendo problemas de ritmo notáveis no decorrer da sua execução. Não li o livro original, mas me pergunto o quanto Gaiman quis trazer dele para a série. Porém, é sempre importante relembrar: a linguagem literária e a televisiva são distintas. Fidelidade não é sinônimo de boa adaptação. Por isso, por mais que seja ótimo termos ninguém menos que Frances McDormand fazendo o papel de Deus e narrando a série, essa narração acaba soando intrusiva e expositiva por demais em vários pontos, quase como se Gaiman quisesse nos pegar pela mão e nos dizer exatamente o que está acontecendo. E embora haja uma profusão de conceitos absurdos e alguns até um pouco complexos, não é nada que justifique o excesso da narração em off. Além disso, alguns momentos da trama soam um tanto inchados ou repetitivos, como por exemplo a primeira metade do terceiro episódio, onde vemos várias situações onde Aziraphale e Crowley se encontram no decorrer da história (embora seja divertido vê-los na Mesopotâmia vendo os unicórnios escapando da arca, ou em Paris no meio da Revolução Francesa querendo achar um restaurante para comer crepe).

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Mas no conjunto geral, esses detalhes, embora minem um pouco das altas expectativas que tinha para a série, não desmerecem o ótimo trabalho feito nestes seis episódios. Ao mesmo tempo em que a trama parece se encerrar adequadamente ao final do último episódio, alguns ganchos garantem a deixa para uma segunda temporada. Só posso esperar que as falhas deste primeiro ano sejam consertadas e tenhamos ainda mais de Aziraphale e Crowley dando dor de cabeça ao Céu e ao Inferno. Michael Sheen e David Tennant juntos nunca é demais.

Agora fiquem com o hino do bromance mais espiritual da história: