O documentário “Anselm”, de Wim Wenders, sobre o artista Anselm Kiefer, é uma experiência visualmente impressionante. O uso da tecnologia 3D permite que o espectador mergulhe nas obras de arte de Kiefer, sentindo o peso e a textura de cada peça. O filme não é apenas um documentário convencional, mas uma experiência sensorial que nos transporta para o mundo do artista.
O filme começa com imagens perturbadoras de bustos de mulheres sem cabeça vestindo vestidos de noiva brancos, fazendo parte da instalação “La Ribaute” de Kiefer. Essas obras foram criadas ao longo de décadas e estão localizadas em uma antiga fábrica de seda no sul da França. Em 3D, os vestidos parecem flutuar entre nossos olhos e a tela, criando uma sensação de presença real. O filme também nos leva a outras partes impressionantes de “La Ribaute”, como as “Sete Torres Celestiais”, feitas de contêineres enferrujados abandonados. A sensação de poder tocar essas estruturas frágeis é quase palpável.
Tanto Kiefer quanto Wenders nasceram em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, e viveram em uma época na Alemanha em que o nazismo e o Holocausto eram assuntos evitados. Enquanto Wenders expressou sua busca por escapismo através de seus filmes, Kiefer escolheu enfrentar o passado nazista através de suas obras de arte. Suas pinturas e esculturas são repletas de simbolismo e texturas ásperas, que exigem a presença física do público para serem apreciadas em sua totalidade.
O filme não segue uma narrativa linear, mas sim uma abordagem mais sensorial, deixando o espectador imerso na beleza e na perturbação das obras de Kiefer. Snippets de outros documentários sobre o artista são apresentados em uma TV antiga no estúdio de Kiefer, sem nenhuma ordem clara. Isso reforça a ideia de que o objetivo do filme não é fornecer informações, mas sim evocar emoções.
Quando vemos Kiefer trabalhando em suas obras, ele parece mais um empreiteiro louco do que um artista. Ele usa palhetas grossas e desajeitadas para espalhar tinta em suas telas e despeja metal fundido usando longos bastões e empilhadeiras. A solidão desse processo criativo nos leva a questionar a mitologia expressiva que envolve o artista. É de se imaginar que um artista de 78 anos, tão rico quanto Kiefer, possua uma equipe de assistentes para ajudá-lo. No entanto, o filme não se aprofunda no trabalho real que envolve a criação de suas obras.
As obras de Kiefer parecem ter nascido, não criadas. Elas parecem ter sido escavadas das profundezas da terra, moldadas a partir do sangue, lama e crueldade da história. O filme destaca a natureza suja e desordenada desse trabalho, mostrando a sujeira e a tinta voando enquanto Kiefer manuseia suas obras. O modo como Wenders filma Kiefer encontra mais drama nos gestos do artista do que em detalhes biográficos. “Anselm” é um filme que convida o público a experimentar o poder e a vitalidade do trabalho de Kiefer.
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