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“Pobre Coisas: Uma Fantasia Feminina de Cores e Aço Steampunk”

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“Poor Things” é uma tentativa falha de retratar a liberdade sexual feminina na tela. O filme traz cores vibrantes, uma estética steampunk e uma história que mistura comédia, questionamentos filosóficos e amadurecimento. A atriz Emma Stone se dedica completamente ao papel principal, mas o resultado é decepcionante. O filme mostra uma obsessão pela aparência do corpo da atriz, mas não aborda a sexualidade feminina de forma significativa.

A trama se passa na era vitoriana tardia e segue Bella Baxter, uma jovem órfã que vive sob os cuidados do cientista-surgeon cruelmente marcado Godwin Baxter, a quem ela chama de “Deus”. Bella é apresentada como uma mulher com deficiências mentais, mas que anseia por aventura e conhecimento. Godwin a prende ao arranjar um casamento com Max McCandles, seu subordinado, como uma forma de aprisionamento disfarçada de bondade. A partir daí, Bella embarca em uma jornada peripatética com um advogado lascivo chamado Duncan Wedderburn, onde envolve-se em relacionamentos e questionamentos sexuais.

“Poor Things” é um filme longo, com mais de duas horas, que perde o ritmo no final, mas é rápido e contundente em seu impacto. No entanto, a história apresenta falhas. Há uma visão distorcida da sexualidade feminina, retratando o sexo como o ápice do empoderamento feminino. Além disso, o filme limita a visão sobre as mulheres ao focar apenas nos seus corpos e no prazer visual que eles podem proporcionar.

A performance de Emma Stone é vibrante, mas falta profundidade e momentos de introspecção. Sua personagem, Bella, é retratada como ingênua e caótica, o que não permite explorar questões mais complexas de sua sexualidade e amadurecimento. Além disso, a interação de Bella com outros personagens femininos é superficial, reforçando a visão masculinizada do filme.

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As cenas de sexo em “Poor Things” não trazem relevância para a história e acabam sendo uma mera exibição da atriz Emma Stone. O filme falha ao explorar a sexualidade feminina de forma autêntica e coerente. Ao invés disso, o foco é colocado na posição do corpo da protagonista e nas expectativas do público masculino.
A falta de contextualização histórica e social das mulheres retratadas no filme é evidente. O roteiro e a direção não conseguem mostrar as forças patriarcais que moldam a vida das prostitutas de Paris, por exemplo. E o filme também não aborda as experiências e perspectivas de mulheres mais velhas, limitando-se a mostrar uma visão estereotipada da sexualidade feminina.

“Poor Things” é esteticamente belo, mas sua narrativa esvazia todo o seu potencial. O filme parece uma mistura de excessos visuais ao estilo de Tim Burton ou Terry Gilliam, sem a profundidade e a originalidade que esses diretores trazem. Além disso, as atuações secundárias são problemáticas, com um desempenho desconfortável e artificial de Jerrod Carmichael e uma presença quase nula de Margaret Qualley.

No fim das contas, “Poor Things” é um filme feio espiritual e narrativamente, mesmo com sua beleza estética. Ele falha ao retratar a sexualidade feminina de forma significativa e não consegue despertar o verdadeiro interesse pelo universo das mulheres. A comparação injusta com o filme “Barbie” de Greta Gerwig só evidencia ainda mais as deficiências de “Poor Things”. Enquanto “Barbie” se aprofunda nos conflitos internos das personagens femininas, “Poor Things” não consegue sequer criar interesse por uma única personagem.