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“O Fim da Bala de Prata: O último suspiro do reinado de Elizabeth é tão sutil quanto uma marretada”

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A série “The Crown” sempre se destacou por mostrar mais do que falar, transmitindo suas mensagens por meio de cenas dramáticas e cenários marcantes. No entanto, essa abordagem sutil e sugestiva é perdida nos episódios finais da sexta temporada, quando o diálogo excessivamente explicativo substitui a nuance. A série parece desesperada para que os espectadores entendam exatamente o que ela estava construindo ao longo das temporadas anteriores. As afirmações são tão óbvias que se tornam simplistas: a monarquia é digna, a nova geração não entende, Elizabeth era especial, os Windsors são pais ruins, Camilla é boa e Harry é ruim.

Anteriormente, a série era mais perspicaz. Ela explorava temas complexos de forma subentendida, ao invés de fazer monólogos expositivos. Por exemplo, o episódio “Paterfamilias” retrata a infância de Philip no internato de forma comovente, mostrando a falta de apoio emocional que ele recebeu e como isso afetou sua capacidade de lidar com emoções. Essa abordagem não apenas era mais sutil, mas também refletia o problema de comunicação emocional entre os personagens.

No entanto, na sexta temporada, a série parece estar ciente de que precisa transmitir todas as suas ideias de uma vez. Charles, em uma ligação com Camilla, lamenta a falta de exemplo paterno que teve com seu pai, o Duque de Edimburgo. Essa narrativa é literalmente martelada na cabeça do espectador, sem espaço para interpretação. Há diálogos excessivamente diretos, como quando Philip atua como terapeuta familiar ao questionar a raiva de Elizabeth em relação a Diana. O significado dos sacrifícios de Elizabeth e a perda de sua identidade pessoal são perdidos no drama de Charles e Diana e nas preocupações com o declínio gradual da monarquia.

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O episódio final tenta reforçar todas essas ideias através de um diálogo superficial. A velha Elizabeth se confronta com seu eu mais jovem e pergunta sobre a vida que ela teve que deixar de lado ao se tornar rainha. Sua versão mais jovem responde que essa vida se foi há muito tempo, enterrada anos atrás. Para reforçar ainda mais essa mensagem, Philip encerra a série dizendo que ele e Elizabeth são uma espécie em extinção, enquanto o resto do mundo continuará lutando. A intensidade do diálogo elimina qualquer oportunidade de interpretação.

Ao se aproximar de seu fim, as histórias geralmente tentam ser mais diretas. No entanto, “The Crown” perde sua força ao se tornar simplista em vez de oferecer perspectivas multifacetadas sobre a monarquia. Nas primeiras temporadas, a série explorava a crueldade das tradições antigas, a perda de identidade de Elizabeth e as relações familiares desumanas. Era possível interpretar as primeiras quatro temporadas como uma crítica contundente à instituição, mesmo expressando empatia por Philip, Elizabeth e Charles.

No entanto, na sexta temporada, a série se esforça para eliminar qualquer ambiguidade. Ela retrata a monarquia como uma instituição que está morrendo e culpa o mundo por não mais apreciar o que ela representa. Elizabeth declara que a tradição é o alicerce da monarquia e que a rainha deve preservar a sabedoria e experiência de seus antepassados. Embora um personagem tente introduzir alguma ambiguidade, sugerindo que Elizabeth deve aprender a ser flexível, a série não permite essa interpretação. O final é uma celebração da decisão de Elizabeth de permanecer no curso, cumprindo seu dever. A série encerra com uma mensagem simplista e finaliza o debate.

Ao final, “The Crown” perde sua capacidade de fazer declarações complexas, usando apenas diálogos explícitos. A nuance é substituída por afirmativas básicas e a porta é fechada. O legado de Elizabeth é transmitido como uma verdade absoluta, sem espaço para interpretação. A série perde a oportunidade de manter sua abordagem anterior e sucumbe à pressão de entregar respostas claras aos espectadores.