Em “O Silêncio dos Inocentes”, thriller dirigido por Jonathan Demme e lançado em 1991, a cadete do FBI Clarice Starling (interpretada por Jodie Foster) investiga um corpo encontrado no Elk River, na Virgínia Ocidental. Durante sua análise, ela descobre, de forma surpreendente, que há padrões em diamante cortados na pele das costas da vítima. Porém, o que mais intriga é o achado de uma larva alojada na garganta do cadáver, que não poderia ter sido introduzida ali acidentalmente.
Starling leva o casulo encontrado até dois entomologistas, que identificam a espécie como acherontia styx, popularmente conhecida como a mariposa da morte. Essa mariposa é logo reconhecida pelo característico manchão branco em seu tórax que se assemelha a um crânio humano.
A mariposa se tornou um elemento marcante no marketing do filme, aparecendo em pôsteres com suas asas cobrindo as bocas dos personagens principais, Clarice e Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), um serial killer que ajuda Starling em sua investigação. No entanto, ao observar mais de perto o pôster, percebe-se que a mariposa não é a mesma vista no filme. De fato, o crânio ilustrado no pôster é uma famosa fotografia de Salvador Dalí, capturada por Philippe Halsman, que mostrava várias mulheres dispostas em um esqueleto de grandes proporções.
. O trabalho, intitulado “In Voluptas Mors”, foi criado em 1951 e envolveu a modelagem de sete mulheres, cujos corpos formavam os contornos de um crânio humano. O designer do pôster, Dawn Baillie, explicou que a imagem precisou passar por alterações para atender às exigências da MPAA, que proíbe a exibição de nudez.
Dalí sempre mesclou o erótico e o macabro, criando obras que distorcem a percepção de corpos humanos em cenários surrealistas. Sua colaboração com Halsman resultou em diversas fotografias icônicas, incluindo “Dalí Atomicus”, que mostra Dalí e outros elementos suspensos no ar.
O filme “O Silêncio dos Inocentes” faz uma representação ligeiramente equivocada da mariposa, descrevendo-a como a mariposa da morte quando, na verdade, a que aparece é a acherontia atropos, native da África. Essa espécie é reconhecida por sua habilidade de se infiltrar em colmeias, disfarçando-se com um odor similar ao das abelhas para roubar mel.
A mariposa, além de sua presença estética, carrega um peso simbólico na narrativa. Hannibal Lecter, um dos personagens mais famosos do cinema, declara que a mariposa representa a transformação de Jame Gumb, o vilão do filme, que deseja se tornar uma nova pessoa. Contudo, a representação é problemática, visto que o filme é criticado por suas abordagens trans-fóbicas.
A mariposa, comumente associada à morte e decadência, figurou em várias obras da cultura popular. Seu contraste com as borboletas, que simbolizam beleza e leveza, ilustra a dualidade entre a vida e a morte. Filmes como “Crimson Peak” de Guillermo del Toro também utilizam mariposas como símbolos de horror, refletindo essa ligação intrínseca com o que é sombriamente belo.
A complexidade e a ambiguidade das imagens e conceitos que “O Silêncio dos Inocentes” apresenta nos convidam a refletir sobre temas como identidade, sexualidade e a percepção cultural sobre o mac abro e o belo.
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