“American Fiction” é uma comédia satírica dirigida por Cord Jefferson que promete ser um assunto recorrente durante toda a temporada de premiações. A história gira em torno de Thelonious “Monk” Ellison, interpretado brilhantemente por Jeffrey Wright, um autor e professor que se vê envolvido na questão da comodificação racial.
No filme, Monk está lutando para encontrar uma editora para o seu último manuscrito, uma reinterpretação da peça “Os Persas” de Ésquilo, já que o trabalho é considerado inadequadamente negro. Frustrado, ele acaba escrevendo um livro repleto de clichês exagerados sobre o sofrimento urbano, sob o pseudônimo Stagg R. Leigh. Para sua surpresa, o livro é um sucesso e Monk se vê em conflito, pois precisa do dinheiro para ajudar sua mãe, que está apresentando sinais de perda de memória.
O filme é uma adaptação do romance “Erasure” de Percival Everett e aborda a questão da comodificação racial na indústria literária, assim como no processo de adaptação de obras literárias para o cinema. Através de uma abordagem satírica, “American Fiction” expõe as contradições e preconceitos presentes nessa realidade.
Jefferson consegue equilibrar a sátira com uma narrativa que foca no desenvolvimento do personagem de Monk. O filme revela um homem fechado e amargurado, cuja amargura profissional se tornou uma forma de se afastar das pessoas ao seu redor. Monk não está ali apenas para receber o preconceito bem-intencionado da indústria, mas também para explorar suas próprias questões pessoais, como seu relacionamento distante com sua mãe e irmã, e as consequências de sua indiferença.
Um dos pontos altos de “American Fiction” é a dinâmica da família Ellison, representada por Tracee Ellis Ross como Lisa, a irmã de Monk, e Sterling K. Brown como Cliff, seu irmão. As cenas em que Monk e Lisa interagem são particularmente cativantes, mostrando flashbacks de momentos de descontração e intimidade entre os dois personagens. É quase como se desejássemos que o filme se focasse exclusivamente na família Ellison, que lida com os desafios da vida adulta.
O filme também apresenta críticas bem-humoradas ao mundo literário, mas é nas dinâmicas familiares que reside a verdadeira força da narrativa. As performances são excelentes, especialmente a de Jeffrey Wright, que dá vida a um personagem melancólico, com seus próprios pontos de vista e limitações.
“American Fiction” é um retrato bem-sucedido de personagens negros que não se limitam à opressão urbana e representam uma classe média alta, tendo crescido em Martha’s Vineyard. As questões levantadas sobre a comodificação racial são pertinentes e provocativas, mas é a análise das relações familiares que torna o filme verdadeiramente recompensador.
No geral, “American Fiction” é uma comédia afiada que utiliza a sátira para expor as contradições da indústria literária e cinematográfica. Com performances brilhantes e uma abordagem inteligente, o filme certamente será um tópico de discussão importante durante toda a temporada de premiações.
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