Doctor Who, uma das séries de ficção científica mais queridas, celebrou seu 60º aniversário com uma comemoração triunfante que contou com a volta do ex-showrunner Russell T. Davies. Ele deu início a uma nova era da franquia, honrando tudo o que veio antes. Em uma típica narrativa de Davies, os três episódios especiais criados para marcar esse evento foram cheios de reviravoltas absurdas, emoção sincera, dinâmicas ricas entre os personagens e monstros assustadores. Para ser justo, há muita coisa no episódio especial de aniversário final, intitulado “The Giggle”, que não faz muito sentido. A ideia de “bi-regeneração” é um absurdo inventado especificamente para garantir que o Doctor interpretado por David Tennant ainda esteja presente, caso o ator queira vestir o terno novamente para uma aventura de férias ou um spin-off limitado. Agora temos dois Doctors, duas TARDISes e muita confusão sobre o que tudo isso significa para o futuro da franquia. O Doctor interpretado por Ncuti Gatwa é a décima quinta regeneração ou uma espécie de clone do Doutor Quatorze que incorpora elementos de seu personagem da mesma forma que os dois dividem suas roupas? Será que o Doctor Quatorze de Tennant vai se regenerar novamente quando este corpo particular “pifar”? É o tipo de reviravolta que Davies adora porque definitivamente vai te deixar com dor de cabeça se você pensar muito sobre isso, mas ainda assim consegue encher seu coração de alegria, fazendo com que você aceite as partes confusas. Não é como se esta seja a primeira vez que ele criou regras conforme se desenvolvia a trama. Esse é um showrunner que encerrou sua primeira passagem na série criando uma versão clônica híbrida humana do Doctor (chamada sem sentido de Doctor Meta-Crisis) a partir de uma parte do corpo que foi cortada durante sua regeneração inicial várias temporadas atrás. Depois, ele mandou o Doctor Meta-Crisis e sua ex-companheira Rose viverem felizes para sempre em uma dimensão alternativa. O superpoder de Davies sempre foi sua capacidade de criar histórias que não fazem sentido narrativamente, mas que conseguem acertar as emoções. E esse é o caso de “The Giggle”, um episódio que mais uma vez muda o cânone estabelecido de Doctor Who seguindo seu próprio caminho. Não apenas criando um segundo Doctor, mas decidindo que a maior aventura que pode oferecer a seu sofrido protagonista é: um final feliz. Uma das coisas mais incríveis sobre Doctor Who como franquia é a esperança que ela transmite. Em uma época em que a ficção científica frequentemente nos mostra um futuro sombrio e distópico, é reconfortante saber que essa série, assim como a veterana Star Trek, entende que contar uma boa história não significa ser cínico. Doctor Who não está aqui para nos dizer que o mundo é um lugar sombrio, que os monstros são reais ou que todos nós carregamos em nós as sementes da nossa própria destruição. Não, Doctor Who já sabe tudo isso e mesmo assim acredita que a redenção sempre é possível, que ser bom é uma escolha e que nós, todos nós, inclusive e talvez especialmente os monstros, podemos decidir ser melhores hoje do que fomos ontem. Coisas incríveis são possíveis. Desgosto e angústia não automaticamente fazem uma história melhor, e você não precisa sofrer para merecer… Em seu 60º aniversário, Doctor Who abraça sua maior aventura: a felicidade.
Filmes, séries, músicas, bandas, clipes, trailers, críticas, artigos, uma odisseia. Quer divulgar o seu trabalho? Mande seu release pra gente!