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Caminhos Amargos da Juventude: Reflexões na Tela de Cinema

Caminhos Amargos da Juventude: Reflexões na Tela de Cinema
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**”E Seus Filhos Depois Deles” – Crítica do Drama Juvenil na Mostra de Veneza**

O filme “E Seus Filhos Depois Deles” (Leurs Enfants Après Eux), apresenta uma narrativa que se passa em uma cidade industrial decadente na França dos anos 90, explorando a vida de três adolescentes. Embora o filme tenha um eco sutil de influências de François Truffaut, essa referência vai se dissipando ao longo da trama, que é prejudicada por uma narrativa repetitiva e pela falta de carisma dos personagens centrais.

Na história, Anthony, um jovem da classe trabalhadora, se apaixona por Steph, uma moça de uma família mais abastada, e suas interações se desenrolam ao longo de quatro verões. Desde um encontro ao longo de um lago até uma série de desentendimentos em festas, o filme captura a essência da juventude — primeiro amor, desejos e a busca por liberdade —, mas enfrenta desafios ao não desenvolver bem esses temas.

Os diretores Zoran e Ludovic Boukherma, que adaptaram o enredo de um romance de Nicolas Mathieu, se declaram influenciados pelo cinema americano, o que pode ser percebido na trilha sonora repleta de músicas dos anos 90, como “Run to the Hills” do Iron Maiden e “Born to Run” de Bruce Springsteen, que ajudam a estabelecer a atmosfera do filme.

A trama central gira em torno da decisão de Anthony de sair para uma festa em uma moto antiga do pai, uma ação que provoca um conflito com Hacine, um jovem da vizinhança. Esse conflito desencadeia uma série de eventos que revelam tensões raciais e a desintegração nas dinâmicas familiares, particularmente a relação entre Anthony e seu pai, que se mostrou difícil devido à perda do emprego na indústria do aço.

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As atuações dos coadjuvantes são impactantes, destacando-se Ludivine Sagnier como a mãe de Anthony, que traz uma mistura de calor e força à sua personagem. Gilles Lellouche, no papel do pai, oferece uma presença sombria e opressora, representando os desafios não apenas de Anthony, mas de toda uma geração marcada pela crise industrial.

O filme, enquanto evoca sentimentos nostálgicos e uma sensação de perda contínua, acaba sendo mais uma reflexão social sutil do que uma análise profunda das relações e desejos dos protagonistas. Os personagens, em especial Steph, que é um objeto de desejo sem profundidade, carecem de desenvolvimento que poderia torná-los mais relacionáveis.

Com uma duração de 2 horas e 24 minutos, “E Seus Filhos Depois Deles” pode falhar em manter o espectador engajado, mas traz à tona questões pertinentes sobre a classe social, ambições e o sentimento de impotência juvenil em um mundo em transformação. O uso de elementos visuais antigos e a captura da essência da juventude proporciona uma experiência que, apesar de seus desafios, ainda ressoa com temas universais de amor e anseio por liberdade.