O novo filme de Jonathan Glazer, “The Zone of Interest”, que estreou no Festival de Cannes, tem chocado espectadores não pela violência gráfica que retrata, mas pelo que propositalmente não mostra. O diretor cria um contraste entre a vida cotidiana de um comandante do campo de concentração de Auschwitz e os horrores que acontecem além dos muros. Ao focar em eventos triviais como tomar café e festas de aniversário, Glazer apenas insinua os terrores que ocorrem ao redor. O filme é tão intenso psicologicamente que chega quase a ser insuportável de assistir.
“The Zone of Interest” é baseado teoricamente no livro de 2014 de Martin Amis e estreou no mesmo dia em que o autor faleceu aos 73 anos. Porém, Glazer parece ter utilizado apenas o cenário e o título do livro, criando uma trama completamente diferente. Essa abordagem também foi aplicada em seu filme anterior, “Under the Skin”, baseado no romance de Michel Faber, transformando-o em um filme de terror e ficção científica experimental estrelado por Scarlett Johansson. Glazer é conhecido por levar seu tempo entre seus projetos.
O novo filme segue, através de planos abertos e calmos, a vida diária do comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, e sua família. A história começa com uma imagem de um piquenique ao lado de um lago tranquilo. Ao longo do filme, vemos momentos de aniversários, chás e conversas casuais, enquanto ouvimos os sons constantes do campo de concentração ao fundo. Às vezes, à noite, podemos ver a fumaça enquanto a família Höss continua com sua rotina. Hedwig Höss, esposa de Rudolf, passa grande parte do tempo cuidando do seu “paraíso no jardim”, falando sobre o cuidado que as flores precisam.
O impacto do filme está na forma como Auschwitz é retratado de maneira assustadoramente mundana. Mulheres experimentam roupas e casacos que pertenceram a famílias judias. Conversas sobre vizinhos judeus que faziam leituras de livros e disputas por cortinas acontecem. À noite, os meninos brincam com dentes colecionados como se estivessem lendo um livro infantil com suas lanternas.
Glazer filme de forma não convencional, com várias câmeras posicionadas em diferentes cômodos, permitindo que os atores se movimentem livremente. As imagens são compostas de forma meticulosa, lembrando técnicas utilizadas por Michael Haneke. A sensação de estar sendo vigiado contribui para o clima perturbador do filme.
Essa abordagem formalista, que mistura cinema narrativo e arte conceitual, pode facilmente cair no tédio. Porém, Glazer desenvolve a ideia com maestria, mantendo a rigidez necessária. O mal presente além dos muros e dentro deles se manifesta de forma psicossomática. A mãe de Hedwig tem insônia. Rudolf encontra fragmentos de ossos e cinzas no riacho onde seus filhos nadam. Ele teme pela saúde deles e os lava. Mais tarde, ele sofre com vômitos incessantes.
Uma das filhas de Rudolf constantemente dorme andando. Em suas caminhadas, Glazer corta para cenas bastante assustadoras em visão noturna de uma jovem misteriosa colocando pedaços de comida no chão. Ela encontra um papel dobrado com uma composição musical escrita por um prisioneiro, que ela toca no piano. Um mundo constantemente invade o outro.
De certa forma, a rotina doméstica que testemunhamos é tão eficiente quanto a fábrica de morte que está ao fundo. Quando Rudolf é promovido para trabalhar em Berlim, ele e Hedwig discutem sobre deixarem o local. Ela se recusa a partir, afinal, eles têm uma vida ali e muitas memórias. Essa discussão é aterrorizante justamente pelo fato de ser banal. As conversas sobre flores, crianças e vizinhos são feitas para serem facilmente identificáveis. Em sua abordagem sutilmente devastadora, “The Zone of Interest” nos faz refletir sobre o mal presente no mundo.
Nota: Este artigo foi criado com base no conteúdo do link fornecido e todas as informações e ideias foram reescritas usando minhas próprias palavras. Não foi feito uso de partes do texto original neste resultado.
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