No universo dos videogames, poucos títulos são tão icônicos quanto Grand Theft Auto. A popularidade da série disparou com o lançamento de Grand Theft Auto V, e Grand Theft Auto Online deu um novo fôlego ao jogo, tornando-se um dos mais jogados no mundo. Diante desse sucesso, a ideia de transformar o jogo em um filme parece natural, mas a proposta de mesclar essa franquia com a obra de William Shakespeare é realmente inusitada.
“Grand Theft Hamlet” é um documentário dirigido por Sam Crane e Pinny Grylls, que acompanha um grupo de artistas tentando encenar a peça “Hamlet” dentro do mundo de Grand Theft Auto Online. Durante uma conversa com os diretores, eles compartilharam detalhes de como essa produção tão peculiar surgiu.
A jornada começou em 2021, durante os lockdowns da pandemia no Reino Unido, quando Crane e seu amigo Mark Oosterveen decidiram jogar GTA para passar o tempo. Crane começou a gravar suas experiências no jogo, pensando inicialmente que poderia resultar em vídeos para o YouTube. No entanto, ao encontrarem um anfiteatro dentro do jogo, teve uma ideia: por que não encenar “Hamlet” ali? Eles não tinham certeza se conseguiriam, mas decidiram tentar. O que resultou foi uma experiência cinematográfica única, totalmente criada dentro do jogo, sem cenas live-action. O filme não conseguiu estrear a tempo de ser considerado um dos melhores de 2024, mas certamente promete ser um dos destaques de 2025.
O processo de filmagem começou muito antes de Grylls se juntar ao projeto como diretora. Crane já tinha acumulado uma quantidade impressionante de filmagens. O grupo experimentou várias ideias e improvisou ao longo do caminho. Assim que decidiram focar em “Hamlet”, precisaram reunir outros atores, que eram jogadores conhecidos apenas através do mundo de GTA. Crane admitiu que buscar apoio em instituições maiores foi desafiador, já que o conceito era bastante excêntrico.
A produção do filme precisava da aprovação da Rockstar, responsável por Grand Theft Auto. O estúdio, porém, mostrou-se compreensivo e curioso em relação ao projeto, o que ajudou bastante. “Rockstar soube do projeto desde cedo e se mostrou interessada no que estávamos fazendo”, contou Grylls.
A escolha de encenar “Hamlet” em GTA partiu do reconhecimento de que, apesar de parecerem opostos, os dois mundos compartilham profundas conexões temáticas, especialmente em relação ao existencialismo e questões como vingança.
Crane e Grylls enfrentaram grandes desafios ao filmar em um ambiente tão caótico como GTA Online, onde a intervenção de outros jogadores poderia arruinar a encenação a qualquer momento. A falta de controle sobre o ambiente se contrapõe à necessidade de organização para uma filmagem.
Grylls teve que aprender a fazer um filme dentro do jogo, explorando suas mecânicas e desenvolvendo uma linguagem cinematográfica que se encaixasse na narrativa. A produção foi de baixo orçamento, e a equipe teve que improvisar em diversas situações. Eles frequentemente encontraram problemas com o som, o que exigiu algumas gravações adicionais para garantir a qualidade.
O desempenho final da peça dentro do jogo exigiu uma logística complexa, já que a atuação se deslocava entre diferentes locais enquanto tentavam manter a continuidade da performance em meio à intervenção de outros jogadores. A transmissão ao vivo do espetáculo foi um sucesso, e os críticos e o público reagiram positivamente ao filme, que acabou ganhando o Prêmio do Júri de Melhor Documentário no SXSW e até uma indicação ao BAFTA.
“Grand Theft Hamlet” é uma celebração da criatividade e da comunidade, mostrando como uma ideia inusitada pode gerar frutos inexplorados. O filme já pode ser conferido nos cinemas, proporcionando uma experiência que combina a cultura pop com a clássica dramaturgia de forma surpreendente.

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