“The Boys” se destaca como uma das adaptações mais conhecidas das histórias em quadrinhos de Garth Ennis, principalmente devido ao seu sucesso na Prime Video. Apesar desse reconhecimento, Ennis tem obras que o entusiasmam ainda mais, como “Sara”, um quadrinho ambientado na Segunda Guerra Mundial, que se distoa bastante do humor habitual do autor. No entanto, sua obra mais emblemática é “Preacher”, um quadrinho que combina elementos de faroeste com uma narrativa de estrada e aborda questões profundamente satíricas sobre religião.
“Preacher” acompanha Jesse Custer, um pregador dotado do poder de fazer com que as pessoas o obedeçam usando a “palavra de Deus”, sua namorada Tulip O’Hare e o vampiro irlandês Proinsias Cassidy. A premissa central da história gira em torno da busca de Jesse por Deus, que abandonou o Céu, levando a uma jornada recheada de críticas sociais e religiosas.
Recentemente, em “The Boys” #27, uma referência intrigante sugere que “Preacher” e “The Boys” habitam o mesmo universo. Billy Butcher, um dos personagens principais de “The Boys”, é amigo de Cassidy. Na edição, Butcher e Hughie visitam um bar em Nova York, propriedade de um homem chamado “Proinsias”, fazendo alusão ao passado de Cassidy.
Ambas as histórias são críticas do fanatismo religioso. Em “The Boys”, a heroína Starlight, interpretada como uma boa cristã, passa por um processo de desilusão ao descobrir a hipocrisia dos heróis que admira. Em um momento angustiante, ela se questiona se Deus realmente a ouve, ignorando o fato de que, no mundo de “Preacher”, Deus estaria morto.
O desfecho de “Preacher” apresenta a morte de Deus, conforme determinado por Ennis, que retrata uma divindade mais como um pai abusivo do que como um ser amoroso. Essa visão crítica se estende ao tratamento que “The Boys” dá a seus personagens, argumentando que não há um ser superior que cuida da humanidade. O verdadeiro poder reside na capacidade das pessoas de se salvarem.
Além de abordar a religião, Garth Ennis utiliza elementos de sua identidade irlandesa-americana em suas histórias. No enredo de “The Boys” #27, uma crítica à forma como os irlandeses-americanos celebram o Dia de São Patrício é apresentada, refletindo o olhar irônico de Ennis sobre a cultura e a percepção de sua herança. Cassidy, por exemplo, mantém uma política de “Sem irlandeses no Dia de São Patrício” em seu bar.
Ennis associa sua aversão à religião organizada com sua experiência de vida na Irlanda do Norte, um local marcado por conflitos religiosos. Ele observa que a divisão entre católicos e protestantes lá leva a um ciclo de violência que, aos olhos de um ateu, parece ilógico.
Ambas as obras também refletem sobre a imigração e a identidade. Ennis, que é da Irlanda do Norte, traz à tona a experiência de ser imigrante através de Cassidy, que considera Nova York seu verdadeiro lar, rejeitando a romantização da luta pela liberdade na Irlanda que muitas vezes é observada entre os irlandeses-americanos.
Seth Rogen e Evan Goldberg, que estiveram por trás da adaptação de “Preacher” para a televisão, também produzem “The Boys”. Com o final de “Preacher” coincidindo com o início de “The Boys”, muitos fãs especulam sobre a possibilidade de um crossover na tela. Existe a esperança de que Joseph Gilgun, que interpreta Cassidy, apareça em um breve cameo na nova temporada de “The Boys”.
Assim, a interconexão entre “The Boys” e “Preacher” não é apenas uma questão de tom ou estilo, mas também de temática central – uma crítica profunda à religião e à cultura, embutida nas experiências pessoais de Garth Ennis como um autor irlandês.
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