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O olhar renovado de Sofia Coppola sobre um clássico de Clint Eastwood

O olhar renovado de Sofia Coppola sobre um clássico de Clint Eastwood
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Thomas P. Cullinan escreveu “The Beguiled”, um romance gótico sulista de 1966 que explora a vida das mulheres em um seminário na Virgínia durante a Guerra Civil Americana. A trama se desenrola com a chegada de um soldado da União, o cabo John McBurney, que, apesar de parecer inofensivo, provoca sentimentos de raiva, inveja e ressentimento nas mulheres e crianças da instituição. A narrativa, que alterna entre os pontos de vista das personagens femininas, revela como a guerra impacta suas vidas e destaca a superficialidade da representação feminina, já que seus desejos são frequentemente moldados em torno da presença de McBurney.

Em 1971, Clint Eastwood e Don Siegel trouxeram essa história às telonas, gerando controvérsias devido à sua abordagem misógina e sexista. Apesar das críticas, Eastwood acreditava que o filme falhou por problemas de marketing e pela tentativa de sair de seu papel costumeiro de herói solitário. A adaptação deles retrata McBurney como um predador manipulador, deixando as mulheres reduzidas a caricaturas, distantes de sua verdadeira complexidade.

Mais de quarenta anos depois, Sofia Coppola decidiu refazer “The Beguiled”, colocando as mulheres no centro da narrativa. Seu filme estreou no Festival de Cannes em 2017 e recebeu o prêmio de Melhor Direção, mas também gerou polêmicas. Embora a adaptação de Coppola ofereça um tratamento mais aprofundado da feminilidade e da agência feminina, ela foi criticada pela exclusão do único personagem negro do romance, Mattie, e pela forma como retratou Edwina, uma mulher birracial, interpretada por Kirsten Dunst.

Coppola justificou sua escolha em deixar Mattie de fora por respeito, afirmando que não queria reproduzir estereótipos prejudiciais. Ela explicou que se concentrou nas dinâmicas de poder entre homens e mulheres, um aspecto que poderia ressoar com todas as mulheres. No entanto, essa abordagem é vista como uma falha notável, já que ignora a complexidade das interações raciais e de classe durante um período tão conturbado como a Guerra Civil.

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A versão de Coppola, apesar dessas críticas, é elogiada por abordar a sexualidade feminina de maneira menos fetichista que a de Eastwood. Ela reinventa os personagens femininos, dando-lhes mais profundidade e humanidade. A diretora enfatizou seu desejo de contar a história do ponto de vista das mulheres, algo que considera raro em obras sobre a guerra, que geralmente se concentram nos homens.

Colin Farrell interpreta McBurney nesta adaptação, e seu comportamento frio em relação às mulheres é mais chocante devido à sua fachada inocente. Ainda assim, a versão de Coppola acaba por compartilhar com a obra original a limitação de não mostrar muito sobre a vida das mulheres além de seus sentimentos complicados em relação ao único homem presente.

A reflexão sobre “The Beguiled” levanta um questionamento sobre a relevância de adaptar essa história em vez de criar novas narrativas que realmente capturem a experiência feminina em sua totalidade.

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