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CRÍTICA | Apesar da temática importante, ‘Fahrenheit 451’ é raso e pretensioso

Novo filme original da HBO é a segunda adaptação audiovisual do romance de Ray Bradbury
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Neste Sábado (19), a HBO liberou em seu canal e no HBO Go seu mais novo filme original, “Fahrenheit 451“. Se trata de mais uma adaptação audiovisual do romance de mesmo nome de Ray Bradbury, tendo em vista que François Truffaut dirigiu uma aclamada versão em 1966. Mas independentemente disso, farei uma análise livre de comparativos, mostrando o que funcionou e o que não funcionou na obra de 2018.

Num futuro distante, materiais didáticos e paradidáticos como livros, filmes, televisão e internet são banidos por completo devido a um grupo radical que acredita que a busca pelo conhecimento pode ser perigosa, obrigando a população a seguir suas normas e interagindo somente com as informações que eles querem passar. Todo material encontrado é queimado por bombeiros responsáveis pela ação, e seus donos, que são os chamados “rebeldes” tem sua identidade queimada. Montag (Michael B. Jordan) é um desses bombeiros que cresceu odiando os rebeldes e queimando tudo que os cerca, até conhecer uma mulher que o faz desafiar todas as suas convicções e crenças.

Mesmo com um enredo importante e com uma clara crítica a censura, tudo aqui parece raso demais. O diretor Ramin Bahrani não aprofunda seus personagens da forma como o filme exige e suas ações não parecem ter um peso dramático que envolve o espectador. Os personagens são bastante unidimensionais e facilmente a gente consegue apontar quem são os mocinhos, quem são os vilões e para que caminho o filme está seguindo. Há facilitações narrativas e forçação de situações para fazer a história andar, só nos resta aceitá-las.

A ambientação é bastante artificial, sem falar que é pouco explorada. Temos os lugares centrais onde boa parte da história se passa, mas tudo parece de mentira, não parece ser um lugar habitado. Falta mais a ser mostrado e explorado, até para nos colocar melhor dentro do universo estabelecido no enredo. A fotografia é confusa, eu gosto do jogo de cores que é feita com o amarelo e vermelho em alusão ao fogo, e do uso da câmera lenta para destacar o fogo, mas devido a montagem que também é também problemática, temos cenas que parecem ter sido jogadas de qualquer jeito, sem nenhuma coesão narrativa, com diferenças abruptas de tom e cor.

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As atuações são bastante afetadas pela falta de profundidade no roteiro, mas não chegam a ser ruins. Michael B. Jordan está bem nos momentos mais imponentes onde ele precisa usar da sua autoridade, mas deixa a desejar nos arcos mais dramáticos. Eu gostaria de vê-lo mais confuso quando começou a questionar sobre o sistema, mas sua mudança foi meio que de uma hora para outra. Michael Shannon está bem como vilão mais uma vez, ele convence mas traz um personagem reciclado de outros trabalhos do ator, que é bem feito e por isso não incomoda. Sofia Boutella faz uma personagem que tem como única função narrativa servir como ponte para a transição do protagonista, e muito do trabalho dela não convence devido a falta de química com o Michael B. Jordan. Os demais atores tem pouco tempo de tela.

Eu gosto dos paralelos que são feitos a nossa sociedade de que às vezes é mais fácil seguir uma mentira confortável do que uma verdade dolorida e de como ele nos apresenta a história pelos olhos do lado do mal. A cena final é agridoce e me agradou o caminho que foi tomado, mas ainda assim eu não me impactei da forma como o diretor queria impactar.

No geral, “Fahrenheit 451” traz um assunto importante e interessante, com belos dilemas morais e um final agridoce. Mas ele tenta ser mais do que realmente é, e a falta de profundidade acaba atrapalhando a experiência e o apego aos personagens e ao enredo.